Chimbinha e os Paralamas do Sucesso. Foto: Kelly Fuzaro/MTV
Por Alê Barreto
Neste domingo, sentei num quiosque perto do Posto 9 aqui no RJ e comecei a ler as minhas revistas. Lá pelas tantas, peguei a Trip nº 175 e fiz uma imersão na matéria sobre o Chimbinha, guitarrista da banda Calypso.
Após finalizar a leitura, percebi que uma das minhas reflexões sobre como surgem as alternativas para continuar o trabalho no qual acreditamos estava certa. A necessidade fala mais alto que qualquer outra coisa. A carreira da maior parte dos profissionais da cultura que eu acompanho sempre avança em função das reais necessidades. Tudo o que construi até hoje na minha carreira teve origem numa necessidade.
Inúmeras vezes ouço artistas me falando que as coisas estão difíceis e que já fizeram muito pelo seu trabalho. Quando questiono o que é o "muito", as pessoas me falam que gravaram um CD, prensaram 2.000 cópias com patrocínio via alguma lei de incentivo. Me falam que divulgaram o trabalho (somente na época do show de lançamento) para umas 10 ou 20 rádios da sua cidade e estado e fazem uma média de 1 a dois shows todos os meses. Ai eu olho o padrão de vida dos caras, muitos deles classe média, classe média alta ou classe alta e concluo que ninguém tem coragem de investir no próprio trabalho. No fundo, não acreditam no que fazem e querem passar a investir no dia que o próprio trabalho começar a dar retorno.
Estas pessoas vivem procurando um produtor ou empresário que vai ser capaz de investir tempo, estrutura administrativa e dinheiro para divulgar um trabalho que elas próprias não dão o menor sinal que acreditam. Eu digo isso porque se o cara acredita realmente no que faz, ele aposta fundo nisso. Se você quer que algo aconteça, você tem que investir.
Se você acha que ensaiar alguns dias, quando o pessoal da banda "está a fim" é uma atitude que irá construir algo na sua carreira, eu peço que você lembre que o Chimbinha participou da gravação de mais de mil cds como guitarrista. Ele diz na reportagem que "tocava todos os ritmos que pedissem. E não gravava só aqui. Gravava em Recife, Fortaleza, Manaus. Eu fiquei de 90 até 99 no estúdio, gravando dia e noite sem parar. Entrava nove da manhã e saía às três da madrugada todos os dias".
Capa da revista Trip 175
Se você acha que pendurar uma música no myspace, facebook, etc, que é o que todo mundo faz, e ficar esperando alguém descobri-lo é a melhor alternativa, leia este trecho da reportagem:
"Pergunta: Em Belém existem as rádios de poste, que ficam tocando música em alto-falantes na rua. Eu ouvi dizer que elas foram muito importantes para vocês no começo da carreira. Como foi essa história?Eu me emociono quando me lembro disso. Esses dias agora andando em Belém. passei numa rua e comecei a chorar. De felicidade, de alegria, mas também daquele sofrimento que eu passei no começo. A gente morava na Cidade Velha, num quartinho de quatro por quatro, só tinha uma cama e um fogão. Quando a gente lançou o primeiro disco, eu falei: tenho que parar de gravar como músico de estúdio para divulgar esse CD. Eu saía de casa cedo, às sete da manhã. Não tinha dinheiro pra comer, passava o dia tomando água. Também não tinha dinheiro para pegar ônibus, então ia a pé para as rádios. Se você visse as distâncias, ia ter pena de mim [risos]. Mas não tinha como eles tocarem a gente. Porque, pra tocar numa rádio, ou você está muito estourado ou então você tem que fazer promoção.
Pergunta: Pagar jabá?Não chegava a ser jabá, porque não tinha grana. Era armar uma promoção com o diretor da rádio, por exemplo comprar mil camisetas pra sortear. Mas eu estava sempre liso. Não sabia mais o que fazer. Um dia, quando eu ia para casa, eu escutei essas rádios de poste tocando música. Aí tive um estalo. Passei
a divulgar nosso disco nessas rádios. Daí a cidade todinha começou a tocar a Banda Calypso nos postes.
Em menos de três meses, estavam todas as rádios normais tocando também. Porque as pessoas que ouviam no poste ligavam e pediam nossa música. Eu distribuí de graça 50 mil CDs do nosso primeiro disco, para loja, carro de som, rádio de poste, pro público. Aí a banda estourou no primeiro disco. A gente fazia show e não ficava com o dinheiro. Sobravam R$ 2, 3, 4 mil por semana, a gente fazia CD e dava pro povo.
Então, eu convido você a pensar se realmente acredita no que você faz, se você realmente quer viver da sua arte e o que você está fazendo para que isso se torne realidade.
Leia a reportagem na íntegra. Vale a pena. Parabéns para revista Trip, para o texto do Ricardo Calil, para as fotos do Julio Kohl e principalmente para o Chimbinha, Joelma e a banda Calypso.